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terça-feira, 27 de setembro de 2011

1808 - Uma obra de Laurentino Gomes

"Imagine que, num dia qualquer, os brasileiros acordassem com a notícia de que o presidente da República havia fugido para Austrália, sob a proteção de aviões da Força Aérea dos Estados Unidos. (...) Provavelmente, a primeira sensação dos brasileiros diante de uma notícia tão inesperada seria de desamparo e traição. Depois, de medo e revolta."(1) É assim que Laurentino Gomes, jornalista e escritor, em seu livro 1808 começa a contar a história da chegada da família real portuguesa ao Brasil. No dia 29 de novembro de 1807, às 7h da manhã, sob a escota da Marinha Britânica acontece a fuga da família real para o Rio de Janeiro. Apesar de toda existência de uma literatura que insiste em fazer de D. João, príncipe regente, e de toda a Coroa portuguesa motivos de zombaria e descrédito, Laurentino Gomes parece tentar desconstruir essa ideia. A fuga da família real para o Brasil, segundo o autor, não foi realizada de maneira estabanada, muito embora, a pressa em fugir motivou muitos atropelamentos e até mesmo objetos valiosos que ficaram para trás como, por exemplo, pratarias das igrejas, livros da Biblioteca Real e outros objetos de valor. "A decisão, diz Laurentino, já havia sido tomada e analisada por diferentes reis, ministros
e conselheiros ao longo de quase três séculos."(2) Para o príncipe regente, D. João, a fuga parecia ser o caminho mais seguro para preservação do reinado. O príncipe não estava disposto a ceder aos interesses de Napoleão que obrigava Portugal a romper relações políticas com a Inglaterra vindo, em seguida, fechar seus portos para frota britânica, fazer parte do bloqueio continental, retirar seu embaixador do solo inglês e, por fim, declarar guerra à Inglaterra. Apesar de todo este estardalhaço, segundo o autor, caso a família real permanecesse em solo português com o apoio da força bélica britânica poderiam lutar e, talvez, ganhar a batalha contra o exército de Napoleão já desgastados pela viagem desde a França até Portugal. Mas o medo e a indecisão eram características marcantes na personalidade do príncipe regente e que, portanto, não via em si
Segregação do Imperador Napoleão
e coroamento da imperatriz Josefina
na Catedral de Notre Dame, 2/12/1804.
Pintura de Jacques-Louis David, 1806-7.
forças para resistir contra o poderoso e temível Napoleão Bonaparte. Laurentino se refere a Napoleão como o "maior gênio militar que o mundo havia conhecido desde os tempos de césares do Império Romano..."(3) É bem verdade que a fama de Napoleão tenha abalado qualquer resquício de confiança existente em D. João. Motivo pelo qual só alimentou a ideia de vir, logo, ao Brasil. A viagem marítima obedeceria a um percurso inicialmente planejado pela frota britânica: sairia de Portugal e pararia, caso fosse necessário, no arquipélago Cabo Verde e, em seguida, retomaria seu rumo em direção ao Rio de Janeiro. No entanto, a pedido de D. João e a bordo do Príncipe Real, navio que levava o príncipe regente e sua mãe a rainha D. Maria I, fez uma escala em Salvador. Segundo, Laurentino, acreditasse que está parada em Salvador não foi acidental. Havia um interesse político por parte do príncipe regente em congregar as províncias das colônias. Salvador, naquele momento, ocupava um local de prestígio diante das outras províncias: foi a primeira capital da colônia no ano de 1763 e, ainda, era um centro importantíssimo nas questões políticas e econômicas. Portanto, ter Salvador como um forte aliado era o primeiro passo para unificar as demais colônias e conseqüentemente ter um Brasil forte e coeso. "Essa nova hipótese, diz Laurentino, de que a escala baiana foi planejada e não fruto de um acaso de percurso, muda sensivelmente as interpretações feitas até hoje sobre a vinda da corte para o Brasil, a começar pela imagem do próprio príncipe regente." (4) Na oportunidade D. João, em Salvador, assinou o seu mais importante documento em solo brasileiro: a carta régia. Este documento autorizava a abertura dos portos para todas as nações. No entanto, era, apenas, a Inglaterra a nação que, a princípio, se beneficiaria com a abertura dos portos. Portugal tinha uma dívida comercial com a Inglaterra e não com os outros países. Outro marco foi a inauguração da primeira escola de Medicina no Brasil, também, em Salvador. Após estes feitos D. João parte definitivamente ao Rio de Janeiro. A chegada marcada por tamanha expectativa por parte do povo teve uma mescla de frustração: a exuberância, o porte e segurança que é próprio dos reis não foi visto no príncipe regente, D.
João. O texto, aqui, em nada reflete com a imagem da Alegoria da chegada da família de D. João VI, quadro pintado por Domingos Antônio Sequeira (1768-1837). O livro, 1808, é repleto de curiosidades sobre a vida particular de D. João, tratado pela maioria dos historiadores como um homem lerdo, glutão, tímido e medroso. Além de outros hábitos que não condiz com atitude que se espera de um rei. A história de D. João só não foi totalmente maculada por causa das constantes intervenções e orientações por parte dos seus brilhantes assessores. Mas que roubou a cena foi a sua esposa, Carlota Joaquina, que aproveitando um momento de descuido tentou destituí-lo do poder. A tentativa de golpe
De Manuel Dias de
Oliveira, inicio do século  XIX.
foi frustada. O rei descobriu a tempo. Em 1826, ano da morte de D. João VI, suspeitou-se que a morte do rei foi causada por envenenamento ordenado por Carlota Joaquina. Os casos amorosos da rainha, também, são relatados por diversas fontes históricas. No entanto, quanto a isso não houve provas fidedignas que comprovasse tal conduta. O autor chama atenção, também, para outro problema que circundava por toda a mente de D.João VI e da elite: era a possibilidade de uma suposta revolução por parte dos escravos. O exemplo da Revolução Haitiana (1791-1804), na colônia de São Domingos, com a revolta de todos os escravos culminando com o fim da escravidão e a morte de toda a elite francesa, causou um destempero e mal-estar na regência de D. João VI. Outro fator de grande relevância evidenciado por Laurentino, marca o início da derrota de Napoleão Bonaparte. Conhecida como a Guerra Peninsular, esse conflito envolveu dois países, a saber: Espanha - nação traída por Napoleão e invadida por seu exército no dia 14 de março de 1808, em Madri - e Portugal. Os britânicos, liderados por Sir. Arthur Wellesley, aproveitando o enfraquecimento das tropas napoleônicas, fortaleceu e treinou os portugueses e franceses para juntos expulsarem o exército de Napoleão da Península Ibérica. Essa derrota seria o início do desmoronamento do império napoleônico que culminaria com a fatídica derrota final, liderada por Lord Wellington na Batalha em Waterloo no ano de 1815. E, agora, com Portugal aparentemente livre de Napoleão, a elite portuguesa exigia o retorno de D. João VI para reestruturar  a nação que já se encontrava em total decadência. A ideia da volta de D. João VI foi marcada por grandes tensões. "Se voltasse a Potugal, diz Laurentino, poderia perder o Brasil que, seguindo o caminho das vizinhas colônias espanholas, acabaria por declarar a sua independência. Se, ao contrário, permanecesse no Rio de Janeiro, perderia Portugal (...)"(5) Portanto, na tentava de não perde o Brasil, acalmar os ânimos da elite portuguesa e disposto a enfrentá-los, D. João VI
Coroação de D. Pedro I.
Obra de Debret (1768-1848).
segue para Portugal. E no Brasil, no dia 12 de outubro o seu filho, D. Pedro I é proclamado Imperador do Brasil. Ano este em que, também, o Brasil se torna independente de Portugal. No entanto essa independência serviu, apenas, para que D. João VI não perdeu o que, a princípio, havia invadido. Para Laurentino: "O que se viu em 1822 foi, portanto, uma ruptura sob controle, ameaçada pelas divergências internas e pelo oceano de pobreza e marginalização criado por três séculos de escravidão e exploração colonial.(...) Por isso, o caminho escolhido em 1822 não era republicano nem genuinamente revolucionário. Era apenas conciliatório." (6)

REFERÊNCIAS

1.GOMES, Laurentino. 1808. São Paulo: Editora Planeta, 2007. pg. 29.
2. Ibidem, p. 48.
3. Ibidem, p. 33.
4. Ibidem, p. 108.
5. Ibidem, p. 316.
6. Ibidem, p. 334.
Laurentino Gomes - 1808

14 comentários:

  1. Bela historia meu amigo, bela dica...abraços de bom dia pra ti.

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  2. Olá professor Maxwell

    Vim agradecer sua visita em meu humilde blog e parabenizá-lo também pelo seu , muito rico em cultura.

    Um grande abraço professor.....Seguindo!

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  3. Amigo publique meu blog no seu que irei lhe publicar no meu ok. abraços

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  4. Eu tenho esse livro aqui e ainda não li...Preciso corrigir esse erro em prazo breve!

    Ótimo texto! Abraço!

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  5. Fábio a sua visita é sempre um prazer. É um livro para ser lido. Um abraço

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  6. Olá,
    Um texto bem enriquecedor. Conhecimento e cultura são aquisições que não se perdem.
    Abraço.

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  7. É isso, mesmo,Vera Lúcia. Esse é o nosso objetivo, aqui. Um abraço

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  8. Gostei demais do post. Muito instrutivo. Excelente abordagem do assunto que muitas vezes é apresentado de maneira distorcida. Obrigado por sua visita lá no blog. Um abraço!

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  9. Otimo texto, preciso me atualizar na leitura. Curiosidade: te linkei no meu blog, mas as tuas atualizações nunca aparecem para mim, só acontece com teu blog, pq será?

    Abração!

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  10. Obrigado pela boa observação,Paulo
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    Celo, meu amigo. Sinceramente não sei o por quê disso? Vejo o seu, aqui, sempre atualizado. Até, a próxima, então.

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