Ligações Perigosas - Um filme de Stephen Frears

“o amor é um sentimento independente, que a prudência pode

fazer evitar mas não pode dominar; e que, uma vez nascido,

só morre de morte natural ou de falta absoluta de esperança”.

Choderlos de Laclos

Vencedor de 3 Oscar, do diretor Stephen Frears, Ligações Perigosas (Dangerous Liaisons, 1988), o filme, é a versão para o cinema feita com base na obra de Choderlos de Laclos (1741 - 1803), escritor francês, publicada em 1782 com o título original Les liaisons dangereuses. Escrito em forma de cartas Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos, se destaca por sua sutil sensibilidade e penetrante linguagem, ao compor correspondências entre os personagens que participam dissimuladamente da trama existente entre eles. Em uma linha de caráter excessivamente psicológica o autor, aqui, perpassa por veias de compreensões com padrões de natureza psicanalítica. O desejo, a paixão, o poder e, por fim, o amor é abordado como pano de fundo de uma dura e caótica observação da essência da natureza humana. A paixão, enquanto narrativa, é ápice de toda a linguagem em meio a um jogo de palavras que revela um domínio do que podemos chamar, aqui, de apropriação da natureza humana como o desvelar dos desejos mais estapafúrdios. Visconde de Valmont (John Malkovich)

personagem idealizado por Laclos, não é apenas um aristocrata francês – século XVIII – dono de uma invejável posição social, mas se destaca por suas façanhas e poder de sedução sobre as mulheres. Valmont parece ser uma encarnação da figura mitológica do amor – Eros. O seu fim último era apenas o desejo de seduzir por seduzir, ou seja, o prazer de amar sem a responsabilidade do que isso

pudesse acarretar. As mulheres, também, ocupam uma posição de destaque. Cada uma em sua fase. As suas idades, aspirações e idealizações parece ser a mola propulsora, ou melhor, o fio condutor de toda a narrativa. A primeira se chama Cécile de Volanges (Uma Thurman), – jovem, bonita, atraente e de família nobre a qual foi educada rigidamente por sua mãe, Sra de Volanges, conforme os padrões da época. A segunda é Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer), mulher casada e compromissada com o que há de mais sagrado – a Igreja, a moral e os sacramentos – não ver a possibilidade mesmo que por pensamentos e, muito menos por palavras, ações e devaneios desvincular o seu ideal para com o seu marido. E por fim, a Marquesa de Merteuil (Glenn Close). Mulher viúva, rica, poderosa e sedutora que em meio a uma frustração de ver o seu amante, o Conde de Gercourt, interessado pela pequena jovem Cécile, aumenta gradativamente a ira por ela e o desejo de vingança. A vingança estava em arruiná-la moralmente e contava com a ajuda de Visconde de Valmont para seduzi-la, levando-a ao escândalo social. Valmont deseja, também,  obter  sucesso  nos

braços da nobre Madame Tourvel, pois, o seu objetivo não era amá-la apenas seduzi-la. Portanto, o desejo idealizado do primeiro amor, Cécile, o desejo de ser amada de maneira fidedigna, Madame de Tourvel, e o desejo de sempre possuir o que se almeja, Marquesa de Merteuil, faz dessas mulheres um tripé do que podemos chamar de revelação da natureza feminina. E  neste universo está Valmont que, por um instante, se torna o desejo materializado dessas mulheres. Pois, o que elas buscam é o que justamente ele não pode dar – o amor eterno.

           
Ligações Perigosas (1988) - Trailer Oficial

 “It’s beyond my control.”      

A interpretação dos atores torna essa umas 

das cenas mais belas do cinema. É possível 

 perceber o paradoxo das relações amorosas.