O primeiro filme do diretor Ingmar Bergman, Crise (Kris, 1946), já anuncia os aspectos de caráter existenciais que se seguirão durante toda a sua trajetória cinematográfica. As dicotomias como amor-ódio, vida-morte e sanidade-loucura despontam ,aqui, como modelo para as suas próximas criações. Para este filme Bergman traz consigo o seguinte elenco: Inga Landgré como Nelly; Stig Olin (Jack); Marianne Löfgren (Sra, Jenney); Dagny Lind (Sra. Ingeborg) e, por último, Allan Bohlin no papel de Ulf. O filme conta a história de Nelley, uma jovem de 18 anos, que vive aos cuidados da professora de piano Sra. Ingeborg Johson. Nelley como a maioria das jovens de sua idade sonha com a possibilidade de vivenciar novas experiências longe de sua cidade. "Não posso, diz Nelley, não posso ficar aqui a minha vida inteira. Quero vivenciar outras coisas. (...) É preciso ter sonhos." Esse desejo de Nelley aos poucos vai ganhando proporção com a chegada de sua mãe biológica, Sra. Jenny, que por razões pessoais entregou a jovem, ainda criança, aos cuidados da Sra. Ingeborg e, agora,vem buscá-la; dando início portanto,
a um tremendo mal-estar entre ambas. Neste interim, Nelley se prepara para ir ao baile com o seu amigo Ulf, um jovem veterinário que mora em um quarto alugado nas dependências da casa da mãe de criação de Nelley - Sra. Ingeborg. Ulf nutre uma paixão desesperada que não é correspondida por Nelley. No baile ela conhece Jack, um jovem sedutor, que terminou por atraí-la e seduzi-la despertando a ira de Ulf. O curioso de tudo isso é que Nelley não imaginava que o homem que a seduzí-la é o amante de sua própria mãe. Abalada com a repercussão do fato, Nelley resolve de uma vez por todas partir para Estolcomo com sua mãe biológica para trabalhar em seu salão de beleza. A história começa a ficar mais tensa com a saída da jovem. A angústia de sua mãe de criação, da revolta de Ulf e do caráter distorcido de Jack que vive uma relação torrencial com a Sra. Jenny são pontuados de maneira proposital, afim de mostrar a complexidade da natureza humana. Jack, por exemplo, com a sua paranóia e as ações desprovidas de qualquer conteúdo moral assume toda a característica de um indivíduo atormentado e a Sra. Jenny, por sua vez, insensível para com o outro e, inclusive, para a sua própria filha.
E é neste contexto árido e escarpado que Jack revoltado diz: "Você me comprou como o seu amante. Você está fincando muita velha. Ninguém lhe queria. Estava com medo de ficar sozinha e eu seria sua válvula de escape. E você trouce a Nelley exatamente pela mesma razão. Mas não haverá mais esses joguinhos malditos!" O diretor em seu primeiro filme evidencia pontos cruciais pertinentes a cada aspecto da natureza de suas personagens, a saber: os desejos juvenis, a natureza aventureira, o despertar da sexualidade e a vaidade muito presentes em Nelley; as ações irrefletidas, a-morais e doentias de Jack; as mentiras e dissimulações da Sra. Jenny; a insistência descabida e a obsessão de Ulf e, por último, a dependência física e emocional da Sra. Ingeborg. Bergman mostra que o amor é quase sempre uma fantasia nas relações humanas e que tudo não passa de relações de interesses. Nelley não ama sua mãe biológica. Preocupada, apenas, com o seu próprio prazer de conhecer uma cidade mais desenvolvida, outras pessoas, festas, roupas e realizações efêmeras. É bem verdade, é claro, que não podemos exigir muito desta jovem que nunca teve o amor de mãe. Jack é um esteta. Ulf um egoísta. Sra. Jenny, uma dissimulada, que a Nelley nunca amou e, por fim, Sr. Ingeborg que vê em Nelley uma muleta para se apoiar em virtude de sua pouca condição física e emocional. Portanto, o amor parece ser, aqui, um engodo. Ama-se por conveniência e necessidade. O amor é uma ideia. Um abstração. É o que o filósofo dinamarquês, Kierkegaard (1813-1855) chama de "amar egoisticamente". Isso pode parecer uma dura verdade, mas que se verdade for estamos, infelizmente, fadados ao fracasso. Pense nisso.
Para uma melhor compreensão da temática do amor e as suas vertentes, aconselho que leiam (Kierkegaard - o-filósofo do amor). E, em seguida, tirem as suas próprias conclusões. Um abraço e até a próxima.
Veja, também:
Ingmar Bergman (1918-2007)
Porto (1948)
Sede de Paixôes (1949)
Rumo à Felicidade (1950)
Juventude (1951)
Quando as Mulheres Esperam (1952)
Monika e o Desejo (1953)
Noites de Circo (1953)
Morangos Silvestres (1957)
Sorrisos de Uma Noite de Amor (1955)
O Sétimo Selo (1956)
A Fonte da Donzela (1959)
O Olho do Diabo (1960)
Através de um Espelho (1961)
Luz de Inverno (1962)
O Silêncio (1963)
Persona (1966)
A Hora do Lobo (1968)
Vergonha (1968)
a um tremendo mal-estar entre ambas. Neste interim, Nelley se prepara para ir ao baile com o seu amigo Ulf, um jovem veterinário que mora em um quarto alugado nas dependências da casa da mãe de criação de Nelley - Sra. Ingeborg. Ulf nutre uma paixão desesperada que não é correspondida por Nelley. No baile ela conhece Jack, um jovem sedutor, que terminou por atraí-la e seduzi-la despertando a ira de Ulf. O curioso de tudo isso é que Nelley não imaginava que o homem que a seduzí-la é o amante de sua própria mãe. Abalada com a repercussão do fato, Nelley resolve de uma vez por todas partir para Estolcomo com sua mãe biológica para trabalhar em seu salão de beleza. A história começa a ficar mais tensa com a saída da jovem. A angústia de sua mãe de criação, da revolta de Ulf e do caráter distorcido de Jack que vive uma relação torrencial com a Sra. Jenny são pontuados de maneira proposital, afim de mostrar a complexidade da natureza humana. Jack, por exemplo, com a sua paranóia e as ações desprovidas de qualquer conteúdo moral assume toda a característica de um indivíduo atormentado e a Sra. Jenny, por sua vez, insensível para com o outro e, inclusive, para a sua própria filha.
E é neste contexto árido e escarpado que Jack revoltado diz: "Você me comprou como o seu amante. Você está fincando muita velha. Ninguém lhe queria. Estava com medo de ficar sozinha e eu seria sua válvula de escape. E você trouce a Nelley exatamente pela mesma razão. Mas não haverá mais esses joguinhos malditos!" O diretor em seu primeiro filme evidencia pontos cruciais pertinentes a cada aspecto da natureza de suas personagens, a saber: os desejos juvenis, a natureza aventureira, o despertar da sexualidade e a vaidade muito presentes em Nelley; as ações irrefletidas, a-morais e doentias de Jack; as mentiras e dissimulações da Sra. Jenny; a insistência descabida e a obsessão de Ulf e, por último, a dependência física e emocional da Sra. Ingeborg. Bergman mostra que o amor é quase sempre uma fantasia nas relações humanas e que tudo não passa de relações de interesses. Nelley não ama sua mãe biológica. Preocupada, apenas, com o seu próprio prazer de conhecer uma cidade mais desenvolvida, outras pessoas, festas, roupas e realizações efêmeras. É bem verdade, é claro, que não podemos exigir muito desta jovem que nunca teve o amor de mãe. Jack é um esteta. Ulf um egoísta. Sra. Jenny, uma dissimulada, que a Nelley nunca amou e, por fim, Sr. Ingeborg que vê em Nelley uma muleta para se apoiar em virtude de sua pouca condição física e emocional. Portanto, o amor parece ser, aqui, um engodo. Ama-se por conveniência e necessidade. O amor é uma ideia. Um abstração. É o que o filósofo dinamarquês, Kierkegaard (1813-1855) chama de "amar egoisticamente". Isso pode parecer uma dura verdade, mas que se verdade for estamos, infelizmente, fadados ao fracasso. Pense nisso.
Para uma melhor compreensão da temática do amor e as suas vertentes, aconselho que leiam (Kierkegaard - o-filósofo do amor). E, em seguida, tirem as suas próprias conclusões. Um abraço e até a próxima.
Veja, também:
Ingmar Bergman (1918-2007)
Porto (1948)
Sede de Paixôes (1949)
Rumo à Felicidade (1950)
Juventude (1951)
Quando as Mulheres Esperam (1952)
Monika e o Desejo (1953)
Noites de Circo (1953)
Morangos Silvestres (1957)
Sorrisos de Uma Noite de Amor (1955)
O Sétimo Selo (1956)
A Fonte da Donzela (1959)
O Olho do Diabo (1960)
Através de um Espelho (1961)
Luz de Inverno (1962)
O Silêncio (1963)
Persona (1966)
A Hora do Lobo (1968)
Vergonha (1968)
Crise (1946) - Parte 3
Nesta cena, Bergman, evidencia as paixões da juventude.
Oi, Maxwell :)Essas histórias complexas, profundas, que abordam o lado emocional dos personagens em geral me interessa muito, pq fico tentando decifrar os personagens... :D
ResponderExcluirFiquei com uma vontade danada de ver esse filme. Mas, até lá, vou adicionar no meu Filmow.
Excelente análise!
Bjs ;)
Vi poucos do Bergaman, mas comprei "No Limiar da Vida" esta semana.
ResponderExcluirEsta sua dica, tá na lista!
Forte e tenso filme. "Amor romântico" que nossa sociedade prega é totalmente carregado de sentimentos egoístas, mas creio no amor altruísta
ResponderExcluire fraterno que nos eleva e nos humaniza. Muito bom amigo!
Lindo fim de semana e muita Luz!
Bjs!
Ana
Oi, Ana Leonilia. Esse filme é um dos melhores de Bergman. Não deixe de conferí-lo. É excelente. Um abraço...
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Olá, Allan Raspante. Apesar de ter visto mais de 15 filmes de Bergman. Este,ainda, não vi.
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A linguagem, Ana Coeli, que Bergman põe,aqui, é tensa e repleta de paradoxo. Assim como é, também, o amor. Um abraço...
A sério? :D que bom! Espero ter ajudado então!
ResponderExcluirE já agora, muitas felicidades!! :DD
Esse filme é magnifico!
ResponderExcluirParabéns pelo blog!
Att,
Marcia
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Olá, Cris. Ajudou sim, kkk. Valeu...
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Obrigado, Márcia. Seja bem-vinda em nosso espaço. Até...
Oi, Márcia. Realmente é um filme fantástico. Obrigado pela visita...
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