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sábado, 5 de maio de 2012

O Silêncio - Um filme de Ingmar Bergman


O terceiro filme da "A Trilogia do Silêncio" do diretor Ingmar Bergman, O Silêncio (Tystnaden, 1963), traz em seu elenco principal Ingrid Thulin como Anna - uma mulher ousada, sedutora e imprevisível, mas que nutre um ódio e, também, uma espécie de inveja por almejar ser igual a sua irmã. -, Gunnel Lindblom no papel de Esther - uma tradutora jovem, bonita e culta. Doente, Esther, vive uma vida repleta de angústia marcada por uma relação truncada com o seu a pai, em sua infância, e um sentimento de prazer erótico por sua irmã - e, por fim, Jörgen Lindström como Johan - um pré-adolescente que vive neste mar de revolta protagonizado por sua mãe (Anna) e sua tia (Esther). O filme conta a história de duas irmãs que vivem uma relação extremamente conturbada. Em uma viagem de trem a Suécia, são obrigadas a parar em um país estrangeiro e, em seguida, buscam hospedagem em um hotel. O filme desde o início é marcado por cenas fortíssimas. A intensidade das cenas refletem de maneira explícita o âmago de nosso inconsciente. Uma marca deste grande diretor sueco que mais uma vez nos brinda com esta excelente obra-prima. É nesta linha do paradoxo em que a liberdade é a nossa própria e amarga escravidão, o diretor, Igmar Bergman, nos prepara para sensações que vão muito além de nossa expectativa como, por exemplo, o momento em que Anna vai ao banheiro e nua pede que Johan, seu filho, venha ao seu encontro e esfregue as suas costas e, em seguida, manda-o que pare e se dirija ao seu quarto. Pede-o que tire sua roupa enquanto ela se apronta para deitar. Depois de haver passado uma loção em seu pescoço e colo, convida-o. Ele se aproxima e, logo, com as mãos repletas de loção desliza em seu corpo. O cheiro intenso da loção parece causar, instantaneamente, uma espécie de embriaguez no menino. Algo parecido com alguém que se delicia em meio ao prazer dos corpos. A cena se prolonga com Johan retornando a cama. Neste instante o olhar fixo e dissimulado do menino que mais parece ser um misto complexo de prazer e espanto, ao ver a sua própria mãe nua deitanda ao seu lado, é revelado pela câmera de Bergman quando Anna retira o traves-
seiro que encobre a visão do garoto. A composição da cena é feita com tamanha naturalidade. Desde os passos do Johan em direção a sua mãe até o encontro de ambos na cama. Enquanto isso Esther em um dos quartos do hotel, mergulhada na leitura de um livro regado a cigarros e bebidas abandona-os, momentaneamente, para ir ao quarto de Anna. Ao vê-los deitados ela, cautelosamente, se aproxima e levemente acaricia cabelo da irmã que dorme e ao sobrinho, ao lado, apenas o toca levemente com a ponta dos dedos. Ao retorna ao quarto, movida por um ímpeto de voluptuosidade, ela começa a se manipular em uma cena de puro erotismo. Ela, também,fica em pânico quando soube que Anna estava de saída e, de repente, começa a beber, incontrolavelmente, até a exaustão, sendo socorrida rapidamente pelo mordomo (Håkan Jahnberg) do hotel. Após esses momentos angustiantes e vertiginosos, dar-se início a um dos diálogos mais centrais e objetivos do filme. É quando ocorre o regresso de Anna ao quarto, aonde estavam hospedadas, após ter ido a um bar. E sem nenhum constragimento, aparente, ela revela todos os detalhes das coisas que ela viu e vivenciou em suas aventuras eróticas. A sua irmã, que espera ansiosa por tudo saber, fica atônita ao ouvir os pormeno-
res dos momentos vividos por Anna. Eis, portanto, o teor da sua fala: "Fui ao cinema e me sentei numa cabine nos fundos. (...) Um homem que havia conhecido no bar chegou e começou a passar a mão nas minhas coxas. Então transamos no chão. (...) Então fui ao bar e o homem saiu comigo. Não sabia aonde ir, então, fomos para a igreja. Transamos num canto escuro atrás de umas colunas." Atenta as palavras da irmã e, ainda, debilitada em virtude de sua enfermidade, suplica para que fique, ao seu lado, e não vá ao encontro do seu amante. "Não deve pensar, diz Esther, que estou com ciúmes". E é ai, então, que Esther sutilmente ao se aproximar de Anna, tenta beijá-la. Presenciamos, portanto, uma das cenas mais surreais do cinema. Segue-se, também, uma outra em que Esther inconformada com a indiferença de Anna vai ao seu encontro e, logo, vê sua irmã e o seu amante deitados na cama.Anna na tentativa de provocá-la, beija-o em sua frente engendrando um tremendo mal-estar acompanhado de uma forte sensação de angústia. A natureza psicológica que se vê em Esther é centrada na dor e na indiferença de ter vivido uma infância frustrada por ter sido objeto de manipulação pela sua própria irmã. E Anna, por sua vez, se vê mergulhada em uma patologia física e não maior do que sua patologia da alma. Vive, também, envolta em fantasias sexuais no desejo de posse pelo prazer de sua própria irmã. O diretor, Ingmar Bergman, parece querer mexer com os nossos valores, levando-nos a sensações das mais estapafúrdias e a questionamentos que normalmente não faríamos a outras pessoas, senão a nós mesmos. E é assim que Bergman vai pontuando todo o filme, a saber: a nudez explícita da mãe para com o filho e o seu erotismo exacerbado, o desejo de Anna pela sua própria irmã, o prazer desmedido, o universo das possibilidades infinitas e a liberdade sem culpa. É sob esta temática que o diretor traça todo o filme. Mais uma vez, Bergman, nos inquieta e propositadamente tira-nos da nossa zona de conforto e lançá-nos ao leões de nosso inconsciente. Esse, sim, é um filme para pensar pensando. Um abraço e até a próxima... 


Veja, também:
Ingmar Bergman (1918-2007)
Crise (1946)
Porto (1948)
Sede de Paixões (1949)
Rumo à Felicidade (1950)
Juventude (1951)
Quando as Mulheres Esperam (1952)
Monika e o Desejo (1953)
Noites de Circo (1953)
Sorrisos de Uma Noite de Amor (1955)
O Sétimo Selo (1956)
Morangos Silvestres (1957)
A Fonte da Donzela (1959)
O Olho do Diabo (1960)
Através de Um Espelho (1961)
Luz de Inverno (1962)
Persona (1966)
A Hora do Lobo (1968)
Vergonha (1968)



O Silêncio (1963) - Trailer Oficial
As experiências de Anna
A volúpia de Esther
O Filme, O Silêncio, na integra em espanhol

9 comentários:

  1. Não gostei muito de O silêncio. Fiquei sem palavras...

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  2. Não vi esse mas o Bergman tem algo que me fascina. A imprevisibilidade superando a propria imprevisibilidade. Sempre bom ver filmes dele.

    Abraços e obrigado, Maxwell, pela visita. Ótima semana. Paz e bem.

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  3. Dos filmes de Bergman, Gilberto, e dos que já vi é, talvez, o mais tenso. O texto assusta. O filme, também. O diretor mergulha fundo na alma humana. É surpreendente...
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    É isso mesmo, Cacá, você resumiu bem a ideia:" A imprevisibilidade superando a propria imprevisibilidade." Um abraço...

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  4. Maxwell, devido à correria dos últimos dias, não pude acompanhar bem essa sua série sobre o Bergman, mas sua iniciativa é sensacional. Bergman é um gênio (assim, no presente, pois gênios não morrem). Espero ver você comentar aqui sobre "Morangos Silvestres", meu filme preferido dele. Grande abraço!

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  5. Oi, Maxwell :) Li o texto e fiquei abismada. Se as imagens são chocantes, imagina o filme. Quando eu pensei que já li de tudo sobre os filmes de Bergman, que exploram bastante o emocional, eu me deparo com "O Silêncio". Vou aguardar os próximos posts. xD


    Gostei muito do teu comentário lá no blog. Assista ao filme sim e, quando puder, faça um post aqui!
    Vou ter o maior prazer em ler. :D

    Bjs ;)

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  6. Olá, Fábio. Bergman é, realmente, sensacional. A respeito do filme, "Morangos Silvestes", Fábio, já está publicado, aqui. Estou pondo os links referentes a cada filme logo abaixo de cada postagem. No mais, um abraço...
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    Oi, Ana. Também achei o filme super chocante. Bergaman é assim mesmo. É um diretor surpreeendente. Obrigado por suas palavras. Um abraço...

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  7. Mais uma prova do quanto os filmes de Bergman são perturbadores.
    Fiquei sufocado enquanto assistia a esse.

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  8. Olá,Patrik. Este é um dos mais tensos que assisti de Bergman. Valeu pela visita...

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  9. Muito assustador e inquietante;mas,adoro Bergman e é a terceira vez que vejo este,procurando cada vez mais entender a mensagem.Anna e Esther são a mesma pessoa?O alter ego de todos nós que somos dúbios?
    A dureza de Anna p/ com Esther deixando -a para morrer só,esta crueldade tão perto do destino final de ambas, o q/ pensar?
    Bergman me faz questionar a mim mesma,a rever meus conceitos e valores,Bergman é demais!

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