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domingo, 29 de julho de 2012

Gritos e Sussurros - Um filme de Ingmar Bergman



 O filme, Gritos e Sussurros (Visknigar Och Rop, 1972), do diretor sueco Ingmar Bergman, trás em seu elenco principal Liv Ulmann como Maria, Ingrid Thulin como Karin e Harriet Andersson como Agnes. O filme conta a história de Agnes, uma mulher portadora de uma grave enfermidade, que já prestes a morrer vive os instantes finais de sua existência aos cuidados de suas duas irmãs (Maria e Karin). Movidas por sentimentos de culpa ou, simplesmente, por uma mera obrigação, Maria e Karin vê aos poucos sua irmã definhado, enquanto que Anna (Kari Sylwan), a empregada, vive uma vida de total alienação e anulação de si mesma sob a configuração de um amor doentio por seus serviços prestados
durante a família e, em especial, a Agnes. A ideia de morte, aqui, na representação da existência de Agnes e do seu fim eminente é o ponto mais alto do filme. A morte que parece já se efetivar em Agnes é parte integrante, também, de suas irmãs e da empregada, que mortas em vida já estão, muito embora não tenham consciência disso. O filme começa em meio a um silêncio, comum aos filmes Bergman, nos aposentos de Agnes que já mostra sinais de cansaço e dor provenientes de um tratamento que já se prolonga durante muito tempo. Em um ambiente lúgubre
onde dorme Agnes, as suas irmãs se revezam para observá-la, enquanto o vazio da morte fica a espreita. O diretor começa a parti daí, a explorar em particular a vida de cada uma dessas mulheres e de como o desespero se configura em cada uma delas. Agnes parece viver uma vida resignada com a dor e demostra uma maior flexibilidade e doçura, para com os seus, em meio ao sofrimento e, por sua vez, Anna, a empregada, parece, às vezes, assumir a postura de âncora de salvação para com Agnes. Como uma espécie de cruz, Anna parece querer levar, compartilhar, viver a angústia, o desespero, a dor e a morte de Agnes como algo plenamente constituído de sua própria essência. Maria vive uma relação de uma falsa empatia para com sua irmã. O cuidado prestado e todo o auxilio dado tem um ar de culpa e não de arrependimento e, por fim, Karin: fria, hostil e entre todas é a mais indiferente e insensível aos seus. Um dado importante no filme é a forte presença das cores. Além do preto e do branco, o vermelho é a cor que mais se sobressai. A forte presença do vermelho nos dá uma sensação vertiginosa e angustiante. O vermelho que ora nos remonta a paixão tem a mesma intensidade do sangue que nos conduz a vida e que aos poucos se esvai do corpo triturado de Agnes. E é neste turbilhão de mentiras, indiferenças, infidelidades e subserviência doentia, que estas quatro mulheres convergem
Maria: "Porque somos tão parecidos, você e eu"
 a um único ponto: a angústia em meio a própria existência. O suicídio, também, aparece em meio as aflições geradas pela falta de congruência verdadeira nas relações, fato que motivou o marido de Maria ao tentar dar cabo de sua vida em meios as constantes traições de sua esposa com David (Erland Josephson), o médico da família. A presença do religioso é, também, marcante neste filme de Bergman, assim como nos seus outros grandes trabalhos. A oração em que o Rev. faz após a morte de Agnes revela um pouco da dicotomia e da hipocria religiosa na creça do Sagrado. A vida vivida na Terra não dá nehuma perspectiva de esperança nas palavras do religioso e que, portanto, viver a existência em função do que espera no porvir e negar a sua própria existência presente, ou seja, é deixar de viver, ou melhor, é 
deixar de ser. Eis, então, as palavras do religioso diante do corpo de Agnes: "Deus nosso Pai, em Sua infinita sabedoria chamou você para Si estando ainda em plena juventude. (...) Reze por nós que fomos deixados na escuridão... deixados para trás nessa Terra miserável com o céu acima de nós, impiedoso e vazioDeposite o seu fardo aos pés de Deus, todo o seu sofrimento e peça a Ele que nos perdoe. Peça a Ele que nos libeerte da nossa ansiedade e de nosso cansaço... das nossa aprensões e medosPeça que Ele dê sentido e significado às nossas vidas". Assim como a cena da oração, as horas que atencederam os gritos e rugidos de dor de Agnes - no instante em que lhe faltava o fôlego de vida - é por demais assustador. A cena que se prolongou por 2m. 26s é uma das mais fortes de Bergman que já vi. Mais uma vez, Bergman, com grande maestria explora aspectos de caráter psicológicos, patológicos, sócias, religiosos e filosóficos. Gritos e Sussurros é um filme para refletir sobre a nossa existência e a implicação de nossas ações em direção ao outro e, sobretudo, no modo como tais ações assumem seu papel nas nossas escolhas.


Veja, também:

Gritos e Sussurros (1972) - Trailer Oficial

6 comentários:

  1. Esse eu tenho em casa e ainda não vi! Que vergonha! Abraço, Maxwell!

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  2. Eu morava no Rio de Janeiro, quando assisti a mais essa bela obra de Bergman, pela década de 70...Foi bom, rever...

    Um abraço, Maxwelll

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  3. Ótimo texto. Sem dúvidas, um dos melhores do mestre. Obra prima máxima. Não me canso de parabenizar essa incursão na filmografia de Bergman. Abração!

    http://www.cinemadetalhado.com.br

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  4. Olá, Fábio. Rapaz, se eu for te contar quantos filmes bons tenho, aqui, e ainda não vi. Você não tem ideia. No entanto, Fábio, esse vale a pena conferir. Um abraço...
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    Oi, Lúcia. É, realmente, uma bela obra. Vale a pena ser revista. Um abraço, Lúcia. Obrigado pela visita.
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    Olá, Celo. Fico feliz que tenhas gostado. Buscamos, sempre, o melhor. Valeu...

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  5. Aí está o melhor filme do Bergman na minha opinião. Começando pelo elenco em si que é sempre uma grande jogada do diretor. Passando pela história, contada detalhadamente, ressaltando os problemas de cada mulher, e claro, o uso da cor vermelha que como explicou o próprio Bergman: "é uma exploração da alma, e desde a infância eu imagino a alma como uma úmida mebrana em diversos tons de vermelho". Um filme diferente de tudo que já vi, e obrigatório pra quem admira a sétima arte.

    Parabéns pelo excelente post!

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  6. Eu, também, acho esse grandioso, Rubi. O elenco é um estrondo. Obrigado pelas palavras. Sua gentileza não tem tamanho. Um abraço...

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