O termo latino Sapere Aude - Ouse Saber - traduz a essência de todo conteúdo deste blogger. Nosso desejo, aqui, é ajudá-lo a mergulhar em ideias que produzam um bem estar de prazer nesse imensurável mar de conhecimento. Logo, contribuiremos da melhor maneira possível para que indivíduos sejam “libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância” – como imaginava Sócrates. Portanto, saia da caverna, AGORA, e aproveite o máximo que puder. Um abraço...

FlashVortex.com

domingo, 21 de outubro de 2012

A Missão - Um filme de Roland Joffé



A Missão (The Mission, 1986), o filme, do diretor Roland Joffé trás em seu elenco principal Liam Neeson como Pe. Fielding, Jeremy Irons no papel do Pe. Gabriel e, por último, Robert de Niro como Rodrigo Mendonza ou Cap. Mendonza. O filme é todo ambientado, na América do Sul – Argentina, Paraguai e Brasil –, no século XVIII onde a própria Igreja e os países da Espanha e de Portugal lutavam pela expansão do seu império, exploração das riquezas naturais, escravidão e dizimação dos índios guaranis. O longa começa com alguns recortes iniciais de situações paralelas que foram ocorrendo quase que momentaneamente no encadeamento da história, desde a chegada dos jesuítas a fim de catequizar os índios até a imposição do Estado no domínio dessa etnia. Robert de Niro é o Cap. Mendonza um português mercenário e traficante de escravos que de maneira impiedosa seqüestra índios para escravizá-los. A vida de Mendonza começa a mudar quando ao duelar com o seu próprio irmão Felipe Mendoza (Aidan Quinn) até a morte, chegando a matá-lo, por causa de uma
mulher, A sra. Carlotta (Cherie Lunghi), é preso e após seis meses sem querer falar com ninguém, recebe na prisão uma visita do Pe. Gabriel, responsável pelo sucesso das missões, que o convence a sair deste estado de inoperância e buscar uma saída para a sua angústia e dor. É, daí, então que Cap. Mendonza resolve abraçar a causa pela preservação da vida dos povos indígenas transformando seus valores e se tornando um jesuíta. Disposto, agora, a ser um deles, não hesita e, logo, faz os votos da Ordem dos Jesuítas. Do outro lado está o Estado e a Igreja que exigia a transferência urgente das missões sob a alegação de que mediante o Tratado de Madrid (1750), Portugal era detentora das terras ocupadas pelas Missões. Em uma visita do Altamirano (Ray McAnally), emissário do Papa, as missões ele foi categórico em dizer ao Pe. Gabriel: “Se os jesuítas resistirem aos portugueses a Ordem Jesuíta será expulsa de Portugal. E depois da Espanha. França, Itália, sabe-se lá. Para sua Ordem sobreviver as missões precisam ser sacrificadas”. O diretor Roland Joffé faz um belo trajeto em meio às questões históricas e políticas da época, evidenciando a maneira nociva de como os interesses do Estado e da Igreja, em todo processo de expansão do poder, se apropriaram dos jesuítas e dos índios usando-os como meios para os seus próprios fins. E é neste contexto, portanto, que os conflitos se sucedem. O Sistema almeja a dominação e os índios, apenas, a sua liberdade mesmo que para isso a morte fosse à única possível solução. Na tentativa absurda de justificar os avanços do Estado caso não houvesse a transferência das missões,
o emissário disse: “Não falo por Deus, falo pela Igreja que é o instrumento de Deus na Terra." O filme é repleto de cenas maravilhosas que o torna um dos mais belos trabalhos do cinema. A cena em que um padre é amarrado pelos índios em um troco em formato de cruz e lançado no rio é inicialmente forte.  
Há, também, uma outra em que o Pe. Gabriel toca uma música no Oboé, instrumento musical de sopro, diante dos índios em meio à tensão pela presença deles que atentos observavam. Detalhe: os índios eram os mesmos que haviam lançado ao rio o padre da mesma Ordem dos Jesuítas. A ideia do amor e o seu paradoxo é um dos pontos centrais neste longa. A exemplo disso temos a leitura da passagem da 1ª Carta aos Coríntios cap. 13 – O Hino do Amor – que é lida durante cenas que revelam a interação entres os jesuítas e os índios. Imbuídos nessa ideia, os padres são confrontados pelo Pe. Gabriel a não lutarem contra o exército da coroa portuguesa sob a alegação doutrinária de que “Deus é amor” e que, portanto, não poderiam pelejar senão ceder. Eis o dilema da fé e da cruz. Roland Joffé mostra, também, como a Igreja ao longo dos anos sempre usou como artifício a ideia da culpa como meio para remissão dos pecados. A penitência como sacrifício doentio no martírio da carne. E a subserviência constante aos dogmas da Igreja sem a mínima possibilidade de contestação. Pois, contestar uma autoridade eclesiástica seria o mesmo que contestar o próprio Deus. A Missão, o filme, é uma excelente obra para entender como se deu todo esse processo histórico e de como, ainda, percebemos, até hoje, a continuidade dessa barbárie. Espero que tenham gostado. Até a próxima...

A Missão (1986) - Trailer Oficial

Umas das cenas mais belas do filme

Ennio Morricone - The Mission Main Theme

6 comentários:

  1. Olá, selecionei seu blog para receber o selo Versatile Blogger. Para ter direito a ele você deve falar em seu blog quem lhe concedeu e escrever um texto com sete coisas sobre você. Vá lá no Gilberto Cinema e pegue o seu selo.

    ResponderExcluir
  2. Oi, Maxwell :)

    Li o post e lembre aqui que o título desse filme era sugerido no meu livro de História, no término dos capítulos sobre colonização.
    Tem todo esse conteúdo histórico.

    Bjs ;)

    ResponderExcluir
  3. Olá querido amigo,Olha que engraçado, achei que meu texto"crise" tinha ficado muito fraco, ai chega você e me fala que lembrou Nietzche e Bergman,nem imagina o quanto fiquei feliz, especialmente sabendo o quanto sabes sobre eles.Obrigada pela dica do filme "Crise" vou conferir sim!
    Maravilhosa sua lembrança deste filme, retrata perfeitamente todo o poder dos dogmas da igreja e a cruel colonização e catequese dos jesuítas e muito mais. Adoro!
    Luz
    Ana

    ResponderExcluir
  4. Robert De Niro no elenco? Como foi que eu deixei passar esse filme? Costumo dizer aos meus amigos cinéfilos que um filme nunca é só um filme, sempre existe uma história além do que se vê. Seu blog nos mostra isso de uma forma muito simples. Parabéns por mais essa indicação (que certamente entrará na minha lista)e pelo excelente texto.

    Abraços e até breve!

    ResponderExcluir
  5. Esse seu post me fez lembrar que ainda não comprei a edição em blu-ray desse filme. Vou procurar corrigir em breve essa falha na minha coleção. O filme merece! Abraço!

    ResponderExcluir
  6. Oi, Gilberto. Obrigado pela lembraça irmão. Um abraço...
    ***********************************
    Fico feliz, Ana, que tenhas tido boas recordações. É um excelente filme. Um abraço....
    ***********************************
    Oi, Ana Coeli. Seus textos são ricos em belas palavras. Obrigado por suas palavras,aqui, também. Um abraço...
    ***********************************
    Olá, Fábio. Que bom irmão. Um filme como esse tem que vê-lo mesmo em uma qualidade sem igual. Um abraço...
    Oi, Rubi. É um filme que vale a pena tê-lo em casa. Você irá gostar. Um abraço...
    **********************************

    ResponderExcluir

Fugitivos da caverna comentam, aqui: