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domingo, 18 de novembro de 2012

Foi Apenas um Sonho - Um filme de Sam Mendes




O filme, Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road, 2008), do diretor Sam Mendes é um drama, ambientado nos anos 50 no subúrbio dos Estados Unidos em Connecticut,baseado no romance, Revolutionary Road, de Richard Yeates escrito em 1961. O longatrás em seu elenco principal Leonardo DiCaprio no papel de Frank Wheeler, um funcionário responsável pelo marqueting daKnox Business Machines, porémentediado pela vida e pela profissão que leva e, por último, Kate Winslet como April, uma atriz frustada que divide o seu tempo como dona de casa e mãe duas crianças.O filme não segue uma estrutura linear. As cenas que compõe o longa são narradas de formas  
fragmentadas propiciando um turbilhão de sensações vertiginosas e provocantes. O deseuilibrio e os acontecimentos confusos das cenas refletem, inteiramente, a angústia da família Wheeler. Tudo começa com um diálogo em um bar, entre Frank e April, em um clima de sedução que mais tarde os uniriam como um casal. De repente a cena muda e, logo, o início feliz se contrasta com a presença acabrunhada de April no palco por uma péssima atuação. Os olhos fixo de Frank ao ver a sua esposa no palco e a maneira como ela se comporta, ao término, é sombrio. O fechar das cortinas parece já ser o início do fim que se anuncia. O choro de April no camarim, após a peça, revela sua própria ruína. Com pequenas sutilezas o diretor, Sam Mendes, pincela o distanciamento do casal. A cena em que ambos, Frank à frente e ela atrás como se fossem dois estranhos, saem do teatro e caminham por um corredor vazio sem dizer uma única palavra é rompido, apenas, com o barulho proveniente dos passos sobre o piso. São 22s, desde o instante, em que a câmera foca o casal e observa a aproximação a cada passo até sumirem do corredor.A sensação de não existência destes 22s é terrível. Já no carro carro, em direção a casa, o silêncio é quebrado com uma frase sem sentido de Frank na tentativa de amenizar a decepção sofrida por Arpil na peça. Assim ele diz: "Você foi a que teve mais presença na peça. (...) Eles são amadores. Mas você estudou, Santo Deus!" Isso foi o estopim para uma discussão calorosa e aterrorizante entre os dois. Ela não estava dispostaa ouvir nada, nem muito menos Frank. O clima fica tenso. Ele se põe a gritar e a ridicularizá-la e ela a vomitar palavras de desprezo contra ele. É neste emaranhado de situações que o longa se processa. Os eventos vão ocorrendo paralelamente na mesma intensidade das divagações e introspecções de seu personagens. Mesmo a mudança para Revolutionary Road, um rico subúrbio de Nova York, a vida e bom emprego em Manhathana não são suficientes para balizar a vida da família Wheeler. E, assim, passam a viver uma vida dupla. A felicidade aparente, os amigos, o trabalho e os filhos sãos máscaras que camuflam suas vidas. Frank e April são dois infelizes que buscam a felicidade sem saber onde encon-trá-la. Frank ocupa todo o seu tempo com o trabalho e April nos afazeres domésticos. Frank aproveita a distração do trabalho para seduzir uma colega e com ela viver momentos de prazer. O diretor, Sam Mendes, vai construindo ou descontruíndo uma relação até as últimas consequências proveniente das ações em meio as escolhas que o casal a cada dia vai desenvolvendo. Fica claro no filme o modo como April mesmo massacrada e atordoada coma vida que, agora, leva procura fazer valer a esperança de viver uma vida aparentemente normal. E no dia do aniversário de Frank, data em que ele completa 30 anos, ela o espera toda entusiasmada com uma bela roupa afim de encantá-lo e, juntamente, com seus filhos preparam-lhe uma surpresa repleta de declarações de amor. Vê e ouvir de sua esposa, April, tais palavras soaram como um trovão e feriram-no como um punhal, pois a pouca horas atrás ele estava com Maureen Grube (Zoe Kazan) - funcionária da empresa e amante. April perde perdão por erros cometidos e, contudo, parece disposta a querer fazer o melhor para preservação do seu lar. Frank em uma crise de consciência chora no banheiro ao ver sua esposa e filhos abraçados e contentes por festejar o o seu aniversário. Após a comemoração April o surpreende com uma idea inesperada: deixar tudo e juntos com os filhos irem morar em Paris. Cansados dessa vida medíocre ela propõe uma mudança radical, afim de alimentar o sonho de poder um dia fazer o que sequer e o que se gosta. Disposta a trabalhar como secretária em uma agência do governo na Europa até que Frankpossa,realmente, encontrar o que deseja fazer, April diz a Frank: " Irá fazer o devia ter feito há 7 anos. (...) Pela primeira vez na vida, terá tempo para descobrir o que fazer. (...) É irreal para um homem com uma mente boa trabalhar ano após ano num trabalho que ele não suporta. Viver num lugar que não suporta com uma mulher que não suporta as mesmas coisas. (...) Toda nossa existência aqui se baseia na ideia de que somos especiais e superiores a tudo, mas não somos. Somos iguais a todo mundo. Olhe para nós. Acreditamos na mesma ilusão ridícula de termos que abdicar da vida e nos estabelecer quando temos filhos. Temos um ao outro por causa disso." Frank, após a conversa, resolve comunicar aos seus colegas da empresa e a um casal de amigos vizinhos, Shep Campbell (David Harbour) e a Milly Campbell (Kathryn Hahn). Shep e Milly Campbell é um casal não muito diferente dos Wheeler. Milly é uma mulher que teme pelo desencanto do seu marido. Ambos vivem uma vida insípida e repetitiva. Shep alimenta uma paixão violenta por April e um desejo reprimido de poder possuí-la. A notícia caiu como uma bomba na mãos dos Campbell. No entanto, a ideia da viajem como perspectiva de mudança foi aos olhos de Milly um alívio, pois é isso, também, que ela espera para suavida - uma perspectiva de mudança. Já em casa, após a visita aos Campbell, April e Frank em meio a essa nova e repentina alegria, faz brotar o que aparentemente se havia sucumbido - a libido. O casal dá uma trégua as constantes indiferenças e, logo, toda intensidade ressurge. No entanto, a sexualidade parece ser um escape e um termômetro na vida do casal. Viver a sexualidade em momentos de felicidade é algo muito comum. O diretor parece mostrar a sexualidade como algo natural e necessário na vida de qualquer casal e, portanto, a intensidade que damos parece, aqui, nivelar o nosso desejo e interesse pelo outro. A cena em que mostra o olhar e a atitude de April em direção a Frank, bem como toda a lembrança de como eles vivenciaram amor no início do relacionamento é uma iniciativa dela. Toda a áurea vivida, agora, pelo casal pontecializou, também, em Frank um sentimento outrora já sentido por April em outros momentos. Com objetivos e metas traçadas, Frank não contava com que, ainda, estava por vir: o presidente, Bart Pollock (Jay O. Sanders) deseja que ele trabalhe juntos com "vendedores especializados". A oferta é tentadora. O salário e a posição de destaque que ele desfrutaria era sua única chance de ascensão. Enquanto isso April não pensava em ou-tra coisa, senão Paris. Antes mesmo de viajar o casal recebe a visita de Helen Givings (Kathy Bates), uma corretora de imóvel que vendeu a atual casa dos Wheeler, o seu marido Howard Givings (Richard Easton) e o seu filho Jonh Givings (Michael Shannon), um esquizofrênico e Dr. em matemática. Jonh começa a fazer perguntas diretamente a Frank, a respeito do seu trabalho e profissão. A cada pergunta e resposta, Jonh vai se aprofundando em questões mais delicadas e contrangedoras. É como se as perguntas funcionassem como um fio do condutor na própria consciência do casal. As perguntas de Jonh funcionam com um martelo. Cada resposta de Frank fica claro a tentativa frustrada de enganar-se a si mesmo. Jonh é a personificação real do inconsciente do casal, ou seja, de um outro eu. Uma espécie de Alter Ego. As perguntas mesmo vindo de um lunático possuem, paradoxalmente, um grau de subjetividade e racionalidade que aos pouco vão minando e destruindo toda e qualquer possibilidade de defesa dos Wheeler. A conversa vai se prolongando e Frank convida a todos e, principalmente, Jonh para desfrutar de um ar puro em meio a um pequeno bosque e como não poderia de ser Frank res-ponde a mais uma pergunta de Jonh a respeito do motivo de sua ida ou da "fuga" a Paris, dizendo: "Fugindo do vazio sem esperança da vida aqui". E como um analista Jonh faz a seguinte observação: "O vazio sem esperança. Muito gente percebe o vazio, mas é preciso ter coragem para ver a falta de esperança". No entanto em meio a todo esse contexto, ao retorna para casa, algo de inesperado acontece: April comunica que está grávida de 10 meses. A gravidez inesperada abalou as perspectivas e todo o planejamento do casal. E a suposta promoção de Frank em seu trabalho alimentou a necessidade de sua permanecia. April, por sua vez, estava focada em viajar mesmo que para isso necessário fosse, até mesmo, a prática do aborto. Fato que só causou ódio em Frank. Ter o filho em Paris ele não queria e nem tão pouco queria que elaabortasse. A situação de April foi ficando, cada vez mais,complicada. E, então, April desabafa: "Nos mudamos para cá porque engravidei. Tivemos outro filho para provar que o primeiro não foi um erro. Isso vai continuar? (...) Nós vivíamos pela verdade. Sabe o que a verdade tem de bom? Todo mundo sabe o que é, mesmo tendo vivido sem ela. Ninguém esquece a verdade, Frank! Apenas mentem melhor." A viajem era apenas um álibi. Paris era só desculpa. April queria viver como nunca viveu. A ideia do novo era para April uma rica possibilidade de esperança. Ela só queria ser feliz. Algo que ela nunca foi. Com o término da discussão o sonho de viajar à Paris, também, se foi. E na tentativa de parecer fazer a vida voltar ao normal seguem juntos com os Campbell para um bar. No meio da diversão aesposa de Shep passa mal e Frank, em seu carro, a conduz até a casa dos Campbell. No bar ficaram Shep e April. O carro de Shep estava trancado por um outro carro no estacionamento não podendo fazer outra coisa, senão esperar. Sozinhos começaram a dançar e April, carente e deprimida, não hesitou a aproximação de Shep que a conduziu ao seu carro e, em seguida, se entregou aos seus braços. No outro dia, já em casa, a frieza tomou conta do casal, as brigas e ódio foi o aperitivo para uma dor que dor estava prestes a engendrar. Frank conta do seu envolvimento com uma amiga do trabalho a April. O fato não a abalou. O amor já não havia. April o odiava e, portanto, não se importava com quem ele se envolvesse. O filho que ela trazia consigo se tornou um estorvo. E, por conseguinte, não havia uma outra saída, senão abortá-lo. Embora o feto não tenha culpa, alguém tinha que ser responsabilizado, ou seja, alguém deveria ser o bode expiatório. O longa é repleto de cenas conturbadas que beiram a realidade. Sam Mendes, o diretor mos-
tra como a natureza humana é repleta de máscaras. Cada um se escondem por trás do que bem quer. No dia seguinte, após a briga mais forte do casal, Frank se apresenta bem cedo para tomar seu café preparado por April. A áurea do filme nesta cena, em especial, em nada se parece com os conturbados diálogos entre osWheeler. A sala, a cozinhas os demais ambientes todos harmonizados. O café já pronto e o olhar bucólico de April se contrasta com a angústia vivida a poucas horas em meio a um a briga descomunal. Essa mudança de temperatura ao longo do filme é proposital. E, portanto, nos faz ver como a grande parte das pessoas vivem em uma dupla face: enganando os outro e a si mesmo. A história vai se aproximando do fim. Com a saída de Frank ao trabalho, April dá início ao aborto. A cena é forte, tensa e dolorosa. Dado o procedimento ela vai até a janela e contempla mundo e a esperança que aos poucos se esvai de sua vida. O sangue que escorre e goteja em seu tapete é uma das cenas mais vertigionosas. A janela é analogia com a esperança, com a possibilidade de liberdade e vida que do outro lado espera. O lado que April já não consegue mais vê - o lado da vida. Foi Apenas um Sonho, o filme, é uma revelação nua e crua das relações humanas, dos seus interesses, das suas máscaras, do seus engodos e, sobretudo, de sua falta de amor. E que, portanto, tudo o que aqui vemos não é, apenas, ficção. Faz parte de nossa realidade e que, conseqüentemente, não podemos nos furtar ou tentar tapar o sol com a peneira figindo que nada disso exista. Pois, reconhecer é o princípio para a mudança. Um abraço e até a próxima postagem.

Foi Apenas um Sonho (2008) - Trailer Oficial


9 comentários:

  1. Um filme forte e de diálogos impecáveis no que diz relação ao casal!!! Dicaprio e Winslet sempre mexem com as histórias quando formam o par!

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  2. Olá, Marcelo. Gosto muito das atuações de Dicaprio e Winslet. Este filme ficou muito evidente como, realmente, nasceram para brilhar. Um abraço, Marcelo.

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  3. Adoro esse filme. Leonardo DiCaprio e Kate Winslet estão primorosos. Claro que é pessimista, como se a felicidade fosse apenas um sonho...

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  4. É um ótimo drama, que além dos protagonistas, vale destacar ainda o ótimo Michael Shannon.

    Abraço

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  5. Sabe que, estou conhecendo inúmeros filmes através do seu blog. Tenho um grande defeito (voltei no tempo e parei) e essas produções mais atuais, geralmente passam direto por mim. Obrigada por me manter sempre atualizada e por indicar aos seus leitores filmes tão interessantes!

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  6. Sua visão deste filme me impressionou,é um belo filme,mas seu final me incomodou, talvez por ser tão real.
    Bjs e Luz!
    Ana

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  7. Maxwell eu não conhecia a existência desse filme. Confesso que nem imagina que DiCaprio e Winslet tinham voltado a gravar juntos desde Titanic... Repito as palavras de Rubi, em um comentário acima, Voltei no tempo e parei! Tenho comigo a ideia de que o cinema atual é muito fraco e desinteressante, no entanto, as vezes surge alguma coisa boa e acabo assistindo, porém, outros passam despercebidos, como aconteceu com esse. Adoro filmes que se passam nos anos 50, 40 e 30, geralmente a trilha sonora e a direção de arte me seduz. Vou atras desse filme urgente na certeza que não irei me decepcionar. Muito obrigado por nos trazer esse ótimo Post.

    Abração

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  8. Olá, Gilberto. Aa atuações de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet arrebentam. Filme possui duras verdades. É dificil de digerir. Mas é algo que não podemos nos furtar. Um abraço, amigo...
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    Bem observado, Hugo. Michael Shannon está grandioso neste filme. Um abraço...
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    Oi, Rubi. Fico feliz, querida, em saber que este espaço, aqui, está fomentando outros interesses de gênero em você. Um abraço...
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    É, Ana. Não é um filme ameno.Tem um forte e pesado drama. Um abraço...
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    Oi, Rô. É filme fantástico. Que bom que gostas. Um abraço...
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    Olá, Jefferson. Que bom revê-lo por aqui rapaz. Esse é grande filme, amigo. Não deixe de conferí-lo. Um abraço...

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